*
Poema de Natal
Natal é um tempo subtilmente especial,
Pois saber invocar e respirar as bênçãos,
É uma arte de perseverança auroral,
Onde se vencem as dificuldades,
Com a aura do amor de Deus a entrar
E a entrega de toda a nossa vida a ressoar.
Assim vamos crescendo no Amor e na Unidade,
Conscientes do Templo que arde em nosso peito,
Enquanto fogo sagrado de confiança e harmonia,
Que levamos pela vida a fora e a dentro a irradiar.
Não estamos sós: mestres, anjos e antepassados,
Muitos são os que nos espreitam ou inspiram.
A Eles dirigimos a nossa gratidão e inspiração:
Vibremos em Deus, sorriam em felicidade.
Assim vamos talhando o corpo espiritual
Na determinação de sermos espírito em acção
Brilhante centelha comungante de irradiação.
Sob o frio invernal e a cruz do sofrimento
Façamos desabrochar a rosa da beatitude imortal
E deixemos a sua fragrância irradiar invencível.
Avancemos peregrinos nas noites de Natal.
Sem irmos a baixo com os cansaços,
Antes como colunas entre o céu e a terra,
Fazendo descer as bênçãos de Deus,
Ressuscitando estrelas ungidas,
Pequenas centelhas no grande fogo cósmico,
Capazes de ajudarem, inspirarem e fortificarem.
Assim cheguei até ao coração e bati-lhe à porta.
Nem sabia que havia aí uma pequena entrada,
Onde o Ámen, o som da Palavra Divina, toca,
E uma luz pura e branca convida-te a meditar:
Sê o Espírito, abre-te, comunga da Presença Divina.
Eis o Natal a acontecer em ti: Deus a nascer em ti, em nós...
Natal
de Pedro Teixeira da Mota
em 12 Dez 2009
*
*
IX
meu coração é um pórtico partido
dando excessivamente sobre o mar.
vejo em minha alma as velas vãs passar
e cada vela passa num sentido.
um soslaio de sombras e ruído
na transparente solidão do ar
evoca estrelas sobre a noite estar
em afastados céus o pórtico ido ...
fernando pessoa
passos da cruz in poemas
*
*
There is a solitude of space
A solitude of sea
A solitude of death, but these
Society shall be
Compared with that profounder site
That polar privacy
A soul admitted to itself -
Finite infinity.
Emily Dickinson
*
*
ouço a neve cantar
ouço a neve cantar
puro êxtase de luar e ar
canta num fantástico campo
de
puro
branco
canta em direcção ao mar
Maria Azenha
in a chuva nos espelhos
*
*
O belo espírito dos ares sopra no búzio,
avermelhado e esguio, distribui com a mão
o som que vai e vem
e voa, tão diferente dos pássaros das margens.
O meu amigo, o espírito dos ares, gosta de dormir ali
nos salgueiros, e já com ele aprendi isto e
aquilo, só não aprendo com ele
a repousar assim tão leve, encostado apenas à orla
da noite e afinal sempre na luz,
para logo acordar com olhos grandes de criança.
Como hei-de ser igual ao meu amigo -
só com o amor, sem dormir, à chuva?
Johannes Bobrowski, Como um Respirar,
tradução de João Barrento, Edições Cotovia, 1990
*
*
This is love: to fly toward a secret sky,
to cause a hundred veils to fall each moment.
First, to let go of live.
In the end, to take a step without feet;
to regard this world as invisible,
and to disregard what appears to be the self.
Heart, I said, what a gift it has been
to enter this circle of lovers,
to see beyond seeing itself,
to reach and feel within the breast.
The Divani Shamsi Tabriz, XIII
rumi
*